#7 "Enquanto viver aqui gente"
O futebol na cidade de Lisboa, a importância de associações, clubes e adeptos na preservação do futebol na sua forma mais genuína e dois projectos de fotografia analógica que são uma ode ao futebol
No Domingo passado, o David Valente publicou uma foto no Instagram, para assinalar dois jogos que opuseram quatro clubes da cidade de Lisboa - Mirantense x Operário e Atlético x Sporting B.
Para além do enorme simbolismo dos objectos presentes nesta imagem e da importância histórica dos clubes em questão, merece sobretudo destaque o texto que o David partilhou, a acompanhar a publicação:
“Enquanto viver aqui gente, e amar, e rir, e chorar, e jogar à bola, continuaremos a ser uma cidade e não um cenário para excursionistas ou um mercado para a especulação imobiliária”.
Quando, em Novembro, fui a Lisboa assistir a um jogo do Atlético na Tapadinha (sobre o qual falei na edição 4 da newsletter), aproveitei para conhecer e fotografar mais alguns campos de futebol da cidade, onde jogam emblemas históricos do futebol nacional.
Nessas visitas, percebi, com espanto, alívio e alegria, que estes campos e clubes não só ainda existem, como estão bem vivos e fortes. Entre tantos hotéis, sítios para inglês ver e casas que não conseguimos comprar, estes recintos emergem como bastiões da Lisboa mais genuína, que felizmente ainda é feita de muitas colectividades, clubes e pessoas que têm trabalhado para fomentar o espírito do associativismo, para enobrecer aquilo que é o futebol mais autêntico e para alimentar o sentido de comunidade, cada vez mais esquecido nas grandes cidades.
O Futebol de Tostões também é feito disto e só existe graças a pessoas que lutam incansavelmente para preservar a verdadeira essência do futebol, às quais muito devemos enquanto adeptos e admiradores deste desporto.
Mais do que palavras, deixo aqui algumas fotos que tirei a esses campos, que espero que consigam transmitir a realidade de uma cidade - ou, pelo menos, uma parte dela - que resiste.
“Enquanto viver aqui gente”, não baixaremos os braços.
Campo Branca Lucas
Sport Lisboa e Olivais




Campo do Vitória da Picheleira
Vitória Clube Lisboa




Parque de Jogos Victor Peralta
Operário Futebol Clube de Lisboa




Estádio Eng.º Carlos Salema
Clube Oriental de Lisboa




Stadia
É impossível falar de campos de futebol em Lisboa e não mencionar um projecto que o fotógrafo Paulo Catrica desenvolveu há mais de 20 anos, chamado Stadia.
O autor tem centrado o seu trabalho nos domínios da fotografia urbana e de paisagem, trabalho esse que conheci algures em 2020, pelas mãos da fotógrafa Lara Jacinto (obrigada, Lara!). Desde então, tem sido uma inspiração para o Futebol de Tostões. Foi, aliás, uma das imagens da série Stadia que me levou a visitar o Campo da Hortinha, em Alhandra, ao qual dediquei a edição 5 da newsletter.
O projecto Stadia pode ser apreciado na íntegra aqui e conta ainda com imagens de campos de futebol em Sacavém, Palma de Baixo, Pontinha, Campo de Ourique, Damaia e Linda-a-Velha.
Vale (muito) a pena seguir
Gonçalo Gameiro Marques
A Associação Recreativa Cultural e Desportiva de Albergaria dos Doze (ARCUDA) e o Grupo de Acção Recreativa e Cultural de Santiais (GARECUS) são duas colectividades fundadas na década de 70, no distrito de Leiria, que conheci pela mão do Gonçalo Gameiro Marques e dos seus incríveis registos fotográficos. Para além de ser jogador do GARECUS, o Gonçalo acompanha os dois clubes, não só nos jogos oficiais, mas também nos vários eventos sociais e culturais que ambos organizam, e abre-nos as portas para um mundo maravilhoso onde futebol e comunidade são um só. Consciente disso ou não, o Gonçalo conta-nos a história destes dois emblemas (um mais ligado ao futebol e outro ao futsal) e fá-lo de uma forma que é simultaneamente simples, autêntica e poética, sempre acompanhado pelo instrumento perfeito: uma câmara analógica.






Já estive no Carlos Salema há uns dez anos para ver um Oriental-Freamunde a contar para a Taça da Liga.