O ano que agora termina ficou marcado pelo regresso em força do Futebol de Tostões às estradas nacionais. Revisitei alguns campos de futebol que já tinha fotografado em tempos e conheci novos campos, de Barcelos a Lisboa, passando por Peniche, Alenquer e Coimbra, cujas fotos irei partilhar ao longo das próximas semanas. Desde 2018 que não fotografava tanto para o Tostões e as saudades eram muitas.
Para além da Tapadinha, à qual dediquei a edição 4 da newsletter, houve um campo que conheci este ano e que me marcou particularmente: o Campo da Hortinha, em Alhandra.
Inaugurado em 1922, o pelado da Hortinha acolheu os jogos do centenário Alhandra Sporting Club até 2017, ano em que a prática de futebol foi suspensa devido à falta de condições tanto nas quatro linhas, como nos balneários. De acordo com um artigo publicado em 2021, no Semanário O Mirante, o clube viu-se sem equipas nas competições de futebol e assistiu ao afastamento de quase 90 jovens que “treinavam num campo pelado que alagava no Inverno e tinha balneários e bancadas num estado inclassificável”.
O campo está hoje abandonado e completamente tomado pelas ervas daninhas. Já não existem balizas, mas as bancadas, uma delas coberta, ainda resistem ao tempo, assim como o bar e os balneários. Como pano de fundo, ergue-se a fábrica da Cimpor (antiga Cimento Tejo), que toma completamente a paisagem que envolve o campo e que contribui muito para tornar este sítio ainda mais especial.
Mas em vez de me alongar nos caracteres, proponho que escutemos o episódio 17 do Tó Madeira Podcast, da autoria do Edgar Macedo, inteiramente dedicado ao Campo da Hortinha. Durante os 30 minutos do episódio, que contou com a participação de Jorge Leitão e de Rui Macieira (presidente e antigo presidente do Alhandra Sporting Club, respectivamente), ficamos a conhecer a história do recinto e do clube, bem como a sua ligação ao rio Tejo.
O relato do Edgar sobre a sua chegada ao Campo da Hortinha descreve quase ponto por ponto a minha experiência:
“À primeira vista o passeio não é convidativo. Vai-se a pé pela beira da estrada nacional 10, o terreno é irregular e não parece feito para peões, mas começa-se a vislumbrar os primeiros pedaços de histórias para contar. Do lado esquerdo acompanham-nos no percurso mansões abandonadas e depois a entrada por uma vila operária. Ainda não há sinal do campo. As únicas placas indicativas são as que informam que Alverca fica a 2 quilómetros, Sacavém a 17 e Lisboa a 19. Avança-se mais um pouco. Surge uma rua à esquerda e a paisagem não engana, com a imponente fábrica em fundo, destacam-se três mastros que outrora terão ostentado bandeiras e um muro com três pinturas: os dizeres Alhandra Sporting Club, o emblema da colectividade e a inscrição Campo da Hortinha, ocultada por roupa a estender numa corda. Não há nada que impeça a entrada no recinto, a não ser os olhares desconfiados de uma família que ocupa o exterior de uma casa, sentados em cadeiras como se fossem guardiões daquele templo. Duas crianças brincam como se o espaço fosse o seu playground privativo. Placas informativas, ambas castigadas pelo sol, junto do que terá sido em tempos as bilheteiras, indicam Bairro da Hortinha e Campo da Hortinha.”
O episódio completo está disponível nas plataformas habituais, nomeadamente no Spotify e no YouTube. São 30 minutos de história, que recomendo muito.
Deixo ainda o link directo para o vídeo do Arquivo RTP que o Edgar menciona no podcast, onde se pode ver um resumo do jogo da 2ª Mão dos Oitavos de Final da Taça de Portugal, que opôs o Alhandra Sporting Club ao Sporting Clube Marinhense, no dia 26 de Maio de 1963.
Termino com uma parte do registo fotográfico que fiz no Campo da Hortinha:




2024
A última newsletter do ano não podia terminar sem deixar um agradecimento a todas as pessoas que acompanham o Futebol de Tostões - às de sempre e às mais recentes. Como disse no início do texto, 2024 foi o ano em que voltei a fotografar de forma mais regular para o Futebol de Tostões e em que percebi que fazia sentido alimentar mais este projecto. Se o fiz foi também por sentir que desse lado há um interesse genuíno naquilo que faço e naquilo que trago a quem segue o Futebol de Tostões, o que também me motivou a procurar outras formas de comunicar e deixar de ter o projecto confinado ao Instagram e ao Facebook.
Esta vontade acabou por concretizar-se no lançamento do site do Futebol de Tostões e na redacção de dois artigos relacionados com o projecto - um primeiro intitulado Campo da Avenida, para o colectivo britânico Terrace Edition, partindo do registo fotográfico que fiz em 2017 neste estádio, em Espinho; e um outro artigo para o site brasileiro Verminosos por Futebol, no qual elegi 10 estádios antigos que adorei fotografar em Portugal.
Mas o desejo de ir para além do mero registo visual no Futebol de Tostões materializou-se sobretudo na criação desta newsletter. Estou a gostar muito deste registo e também de explorar o Substack, onde tenho conhecido muitos projectos interessantes. Obrigada a quem subscreve, a quem me lê e a quem tem partilhado a newsletter junto dos seus contactos. Este apoio é fundamental para conseguir levar o Futebol de Tostões a mais pessoas.
Vemo-nos em 2025.