Edição extra: os Tigres da Costa Verde
O 110.º aniversário do Sporting Clube de Espinho e o Campo da Avenida
O dia 11 de Novembro é sinónimo de festa para o Sporting Clube de Espinho. São 110 anos de vida de um emblema incontornável do desporto português, feito de “gente do mar que exulta e sofre, almas a vibrar em emoções, gargantas roucas de tanto gritar”1.
Ao longo da sua história, o SC Espinho notabilizou-se em várias modalidades, desde o atletismo ao voleibol, passando pelo ciclismo, basquetebol, futsal ou boxe. No que diz respeito ao desporto-rei, o SC Espinho foi a 27.ª associação desportiva a ser criada em Portugal para a prática do futebol, desporto ao qual se dedica de forma ininterrupta desde 1914.
Logo após a sua fundação, o clube inscreveu-se na Associação de Futebol do Porto, tendo os Tigres da Costa Verde participado em competições importantes, entre as quais se destaca a Taça de Honra, em 1918, prova que contou com nomes sonantes do futebol, como o FC Porto, o Salgueiros ou o Boavista. O SC Espinho acabou por chegar à final, momento que ficou marcado por uma história curiosa. A final estava agendada para o Campo de Ramalde, mas o Salgueiros pediu o adiamento do jogo por causa de uma corrida de touros que iria ter lugar na Areosa, no mesmo dia. O pedido foi rejeitado pela AF Porto e a vitória foi atribuída ao SC Espinho por falta de comparência do adversário. No entanto, o clube não queria ganhar na secretaria e propôs que o jogo tivesse lugar numa nova data, no recinto onde então o SC Espinho disputava as suas partidas, o Campo da Feira, que então “oferecia um aspecto encantador tal a numerosa multidão que desejava presenciar tão sensacional encontro”.2 O clube da casa não deixou o troféu fugir, tendo batido os visitantes por quatro bolas a zero.
Em 1924, o SC Espinho assume um papel crucial na criação da Associação de Futebol de Aveiro, sendo um dos seus sócios-fundadores. E é precisamente na condição de campeão da AF Aveiro que o clube participa na sua primeira competição a nível nacional, em 1924/25: o Campeonato de Portugal (actual Taça de Portugal), prova que reunia todos os campeões distritais. O SC Espinho estreou-se em grande, perdendo apenas nas meias-finais, frente ao FC Porto.
Mas foi apenas em 1974, precisamente há 50 anos, que o SC Espinho festejou a subida à 1.ª Divisão, num jogo histórico que teve lugar no Campo da Avenida e opôs os Tigres ao União de Lamas. Segundo o Defesa de Espinho, na sua edição de 22 de Junho de 1974, “foi o fim do mundo no Campo da Avenida”, com a cidade a assistir à vitória do SC Espinho por 2-1, com golos de Simplício Guimarães e Telé.
Nessa temporada, o clube enfrentou a despromoção. Depois de subidas e descidas, acabou por conseguir o seu melhor resultado de sempre no principal escalão do futebol português em 1979/80 - um honroso 7.º lugar. Actualmente, o SC Espinho lidera o Campeonato SABSEG da AF Aveiro, somando sete vitórias e apenas um empate.
CAMPO DA AVENIDA
É impossível falar da história do SC Espinho e não falar do Campo da Avenida, palco de tantos momentos importantes na vida do clube.
O Campo da Avenida, também conhecido por Estádio Comendador Manuel Violas, foi um dos primeiros campos que fotografei para o Futebol de Tostões e marcou-me particularmente, talvez por uma certa melancolia associada ao facto de estar perante um estádio com aquela magnitude, num estado tão avançado de degradação. À primeira vista, qualquer pessoa que acabasse de chegar ali diria que era um lugar fantasma, mas a verdade é que, nessa altura, ainda se jogava no Comendador.
Poucos meses mais tarde, li a notícia de que o estádio ia mesmo ser demolido. Mais um, a somar a tantos outros. No mesmo local, ali mesmo junto à praia, está a ser construído um empreendimento imobiliário e a casa do Sporting Clube de Espinho passou a ser outra. Outras, na verdade. Desde a demolição do Campo da Avenida, o Espinho tem vindo a jogar em estádios emprestados por clubes vizinhos, dado que as obras do novo estádio, iniciadas em 2021, foram interrompidas há cerca de um ano e meio. De acordo com uma notícia do JN, de 16 de Agosto de 2024, foram encontradas irregularidades que levaram à suspensão das obras e não há qualquer data para o recomeço das mesmas. Existe mesmo um manifesto assinado por 110 personalidades ligadas ao futebol, que reclamam a conclusão das obras para que o clube tenha de novo um lugar a que possa chamar de casa.
Falo um pouco sobre este recinto histórico num artigo que escrevi recentemente para um colectivo britânico chamado Terrace Edition, onde partilho também as fotos que tirei no Campo da Avenida em 2017. Se não tiveram oportunidade de ler o texto, convido-vos a irem até ao site do Terrace Edition para acederem ao artigo e ao registo fotográfico completo.
Deixo a sugestão para que consultem o arquivo do Terrace Edition, que é bastante rico e conta com inúmeras histórias (e imagens) de clubes, adeptos e jogos dentro e fora do Reino Unido. Destaco três artigos em particular: o Dérbi das Beiras e o Victoria FC: Dreams of Victory, ambos da autoria de Gil Pereira; e o Lisbon Colours, de Tom Reed, que conta com fotografias tiradas em vários estádios lisboetas.
Boas leituras e até breve,
Marta.
O CAMPO DA AVENIDA AO LONGO DA HISTÓRIA
A rematar esta edição extra da newsletter deixo-vos com algumas imagens3 que nos contam também um pouco da história do Campo da Avenida:







Excerto do Hino do SC Espinho.
Crónica do jornal Gazeta de Espinho, de 8 de Setembro de 1918.
As fotos que acompanham esta secção da newsletter foram retiradas: (1) de um artigo da autoria de Alberto de Castro Abreu, publicado no blog Glórias do Passado, que pode ser lido aqui; e (2) de uma publicação no Facebook, feita pela Página de Apoio ao Sporting Clube de Espinho, no dia 20 de Maio de 2019, dia em que se assinalou o início da demolição do Campo da Avenida.
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