#8 A capital do futebol popular

O campeonato de futebol popular em Barcelos, a estreia do Futebol de Tostões na Universidade do Minho, conversas sobre futebol popular e um projecto que dispensa passaporte português

mar 30, 2025

Nas últimas semanas andei a percorrer o arquivo fotográfico do Futebol de Tostões, para preparar uma apresentação de que falarei mais adiante. Com esse exercício, dei por mim a perceber que Barcelos é um dos territórios que mais fotografei até ao momento, o que se explica não só pelos inúmeros campos de jogos que existem no concelho e pela proximidade geográfica entre eles, mas sobretudo pela vitalidade que o futebol tem nesta zona do país, sobretudo o futebol popular, que é o meu preferido e o argumento perfeito para justificar muitas idas até ao Minho para fotografar mais uns quantos campos da bola.

Esta vitalidade não é um acaso, mas sim uma consequência da grande aposta que tem sido feita em Barcelos. A força do seu campeonato de futebol popular é fruto do enorme trabalho e dedicação de jogadores, equipas técnicas e dirigentes, mas também do apoio incansável de centenas de barcelenses (e não só), que se deslocam em massa até aos campos de jogos todos os domingos de manhã, para apoiarem o seu clube.

Não é em vão que Barcelos é conhecida como a capital do futebol popular. Com mais de 30 anos de história, a Associação de Futebol Popular de Barcelos (AFPB) é uma das maiores associações de futebol popular do país, sendo actualmente constituída por mais de 1600 atletas de 42 clubes, distribuídos por duas divisões. A 2.ª divisão desdobra-se em duas séries (série A e série B) e ainda há espaço para se disputar a Taça e a Supertaça do Futebol Popular. Durante o Verão, a AFPB é também responsável por organizar o Arraial da Bifana, um evento único que junta os clubes que fazem parte da associação e que promove o convívio entre jogadores, dirigentes, equipas técnicas e adeptos.

Quem quiser conhecer melhor esta realidade e saber mais sobre os primórdios do futebol popular na cidade de Barcelos, não pode deixar de ir até ao YouTube da AFPB espreitar os vídeos dos encontros “Mesa dos Fundadores”, um evento informal que juntou, à mesa de um restaurante, fundadores e ex-dirigentes ligados ao futebol popular.

Episódio 1 do encontro “Mesa dos Fundadores”. AFPB.

Para além destes vídeos, deixo ainda uma outra sugestão: o projecto A Magia do Popular, da autoria da Armanda Cunha, do Alexandre Rodrigues e da Luísa Fernandes. Os três acompanharam alguns clubes da AFPB ao longo de um ano, o que culminou numa série de pequenos vídeos e na produção do documentário “A Caminho do Triunfo”. Nele é bem visível o enorme companheirismo que existe entre todos aqueles que fazem parte do futebol popular barcelense, especialmente entre os jogadores, que representam com um enorme orgulho as cores do seu clube e, na maioria dos casos, da própria freguesia.

Documentário “A Caminho do Triunfo”. Imagens: A Magia do Popular.

O orgulho de “representar o clube da terra” é, aliás, uma das ideias mais repetidas ao longo dos quase 30 minutos de documentário, assim como a proximidade e união entre jogadores e adeptos. Todos os fins-de-semana, pais, tios, irmãos, amigos e vizinhos deslocam-se em massa aos campos de jogos para apoiar o clube da terra. Como um dos entrevistados refere algures no documentário, “quem quiser ver a essência do futebol é no popular e nos campeonatos distritais.” Não posso concordar mais.

Longa vida ao Futebol Popular!

P.S.: Das várias viagens que fiz até agora pelos campos do futebol popular de Barcelos, resultaram dezenas de imagens, que estive a seleccionar para partilhar aqui, na segunda parte desta edição da newsletter, que chegará mais logo às caixas de email!

Aula aberta na Universidade do Minho

No dia 12 de Março fui até à Escola de Arquitectura, Arte e Design da Universidade do Minho (EAAD), para uma aula aberta, no âmbito da UC Atelier 2A, do Mestrado Integrado em Arquitectura, a convite do Professor Miguel Fernandes.

Durante a sessão falei sobre as origens do Futebol de Tostões e sobre as intersecções entre futebol, comunidade, património, território e arquitectura. Partindo de fotos que fui tirando em campos de jogos, reflectimos em conjunto sobre o papel dos arquitectos na preservação do enorme património existente nestes recintos, sobretudo nos mais antigos.

Ficam alguns registos da estreia do Futebol de Tostões na academia:

Conversas sobre futebol popular em Barcelos

Há uns tempos fui contactada pelo Miguel Fernandes, que se encontrava na recta final de um estudo sobre futebol no concelho de Barcelos, do qual iria resultar um livro e duas conversas informais. Em boa hora aceitei o desafio para participar numa delas, já que foi a oportunidade ideal para aprender mais sobre o futebol popular em Barcelos e para conhecer o trabalho que o Miguel desenvolveu neste território durante um ano, sintetizado num livro lançado no passado dia 7 de Março - “O Campo de Jogos: narrativas socioespaciais do futebol popular no território Barcelense”.

O livro deu ainda origem a uma exposição, que conta com mapas, desenhos e várias fotos que o Miguel tirou em campos de jogos da região, bem como objectos que alguns clubes cederam: um antigo carrinho de marcação de pelados, uma barreira móvel e a sempre indispensável churrasqueira. A própria conversa que tivemos decorreu numa mesa vinda de um bar de um dos clubes do concelho, onde se disputou recentemente um torneio de sueca. Haverá melhor lugar para uma conversa sobre futebol popular?

A exposição está patente no Espaço Cultura, em Barcelos, até ao dia 4 de Abril, dia em que, pelas 21h30, decorrerá uma conversa com Cidália Silva e Marta Labastida, docentes de Arquitectura da Universidade do Minho.

Vale (muito) a pena seguir

Paraíso Portugal

“Não precisa passaporte para dizer que é português”, nem o Paraíso Portugal precisa que se percorra muito a sua galeria no Instagram para se perceber que este é um projecto feito de verdadeiros tesouros e de muitas memórias.

O Paraíso Portugal colecciona um pouco de tudo: imagens que são uma viagem no tempo, outras que fazem rir e outras que podem causar surpresa a quem não conhece bem Portugal (e até a quem conhece). No fundo, segundo os próprios, “gostamos do que é português, do que é esquisito, do que é inesperado ou que, de alguma forma, retorce a perspectiva, subverte as expectativas e cria ligações que antes não existiam”. Eu diria que é tudo isto e muito mais. A não perder!

Alguns exemplos de fotos partilhadas pelo Paraíso Portugal, capazes de convencer qualquer um a seguir este projecto: